O Zoológico Como Espaço Integrador de Posturas em Educação Ambiental.
- giulia lucheta
- 17 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Assim como a educação ambiental não acontece apenas dentro da instituição escolar, ela não deve ser restrita aos alunos propriamente ditos.
Ambientes não-formais como jardins zoológicos e botânicos, parques, museus, dentre outros, podem ser úteis na divulgação de conhecimento científico a outros setores da população, inclusive sobre problemas ambientais.
A alfabetização científica, assim, trata-se da aquisição de conhecimentos que possam orientar o indivíduo na adoção de suas posturas, que muitas vezes afetam a coletividade.
importância maior da mediação do conhecimento para a educação ambiental reside justamente aí, pois no âmbito social é que nascem as novas maneiras de organização possíveis de serem transformadas em novos paradigmas.
Nesse sentido, o educador em especial tem papel fundamental na construção de uma nova reflexão sobre a problemática ambiental e na elaboração de estratégias para despertar todas as esferas sociais possíveis para essa questão.
Diante de tais preocupações, durante o ano de 2003, alunos do último ano do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista (UNESP) “Júlio de Mesquita Filho”, campus de São José do Rio Preto, São Paulo, elaboraram e executaram um projeto intitulado “Bem-Zôo: Bem-estar no Zoológico”.
O objetivo foi proporcionar momentos de reflexão junto a um grupo de universitários e funcionários do Zoológico Municipal local, na tentativa de despertá-los sobre a mudança de valores e de posturas diante do contexto da degradação ambiental.
Além da ampliação do espaço para discussão no meio acadêmico, tentamos criar uma oportunidade inicial para a participação dos estudantes em uma experiência relacionada à educação ambiental no zoológico, visando a embasar e estimular a concretização de outras ações na comunidade externa.
Assim, indiretamente, esperamos contribuir para a melhoria do trabalho no zoológico, por meio da capacitação de seus funcionários no tratamento aos animais e no atendimento ao público.
Esses funcionários citaram o mau comportamento de visitantes diante dos recintos, fazendo barulhos excessivos, atirando objetos ou fornecendo alimentos estranhos à dieta dos animais.
Relataram, ainda, serem indagados sobre certos comportamentos ou características dos animais, respondendo com base em conhecimento adquirido principalmente por meio da mídia ou outras fontes não-científicas.
Quanto ao tratamento dos animais, percebemos que alguns aspectos poderiam ser modificados apenas mediante a compreensão de características biológicas das espécies, indicando a necessidade real do conhecimento científico sistematizado e adequado à compreensão dos tratadores de animais.
Consideramos que o entendimento sobre tais aspectos pudesse ser útil para melhorar o manejo dos animais dentro do zoológico e para compreensão, pelos funcionários, dos problemas enfrentados face à degradação ambiental.
O curso abordou o mesmo conteúdo da cartilha, além da ênfase nas questões sociais envolvendo o tema e o papel do educador brasileiro nesse contexto.
Isso pode refletir o caráter específico de muitas disciplinas da graduação e sua desvinculação com a esfera social, mostrando a relevância de cursos e similares extracurriculares para a complementação da formação profissional.
Por iniciativa própria, muitos dos alunos que participaram do curso se organizaram, no ano seguinte, para desenvolver monitorias no Zoológico Municipal, aos finais de semana, orientando os visitantes e informando-os sobre os animais.
Também a partir dos dados coletados na fase de sondagem, um mini-curso foi elaborado e ministrado aos funcionários do zoológico, incluindo tratadores de animais e fiscais.
O curso foi teórico, utilizando como recurso sempre as falas dos próprios funcionários e seus relatos de experiência no trabalho com o público (fiscais vigilantes) e com os animais (tratadores).
Discutindo sobre horário de atividade dos animais e suas determinantes evolutivas, esse tratador compreendeu que deveria passar a fornecer o alimento ao anoitecer, ao invés de esperar que o animal se acostumasse ao horário diurno.
Ainda de posse dessas informações, os fiscais poderiam explicar ao público que a jaguatirica só fica deitada dentro do abrigo porque isso é o que ela normalmente faz durante o dia, o que coincide com o horário da visitação.
Assim como nesse exemplo, de modo geral o relato das experiências dos funcionários foi reinterpretado após as discussões, indicando que houve a apreensão das ideias centrais.
A partir destas e de outras conclusões elaboradas pelos próprios funcionários, avaliamos que o conhecimento científico trabalhado no curso pode, potencialmente, ser incorporado em suas rotinas profissionais.
Porém, concordamos com a observação de Lima, sobre o fato de que a maioria das propostas educacionais para o meio ambiente tem enfatizado os aspectos técnicos e biológicos em detrimento de suas dimensões políticas e éticas.
Desse modo, apesar de embasarmos a abordagem em conhecimento científico especializado, inclusive na ecologia, não perdemos de vista a discussão de questões sociais e políticas associadas ao problema.
Considerando assim, o contexto social no qual o público está inserido, a condução do processo de ensino-aprendizagem faz com que o educando compreenda a si mesmo como parte desse contexto, e se sinta capaz de interferir ativamente nessas questões.
Essa compreensão pôde ser notada tanto durante as discussões quanto após, uma vez que muitos alunos passaram a frequentar o zoológico realizando monitorias e relataram a mudança de postura dos funcionários na instituição.
Artigo disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/66/70
Imagem: Galeria Wix.
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