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Educação Ambiental: Que Critérios Adotar para Avaliar a Adequação Pedagógica de Seus Projetos?



Recentemente, a área de Meio Ambiente foi incluída como um dos temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs, centrando-se o trabalho pedagógico “no desenvolvimento de atitudes e posturas éticas e, no domínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem de conceitos. Ainda que de forma incipiente, muitos professores têm dedicado parte de seu trabalho em sala de aula às questões ambientais, isso sem contar as inúmeras iniciativas nesta área tomadas por organizações não-governamentais, centros comunitários, empresas, mídia, dentre outros. Muitos autores reconhecem as dificuldades em avaliar e analisar as repercussões de atividades de educação ambiental devido à abrangência dos temas e dos objetivos, pois educar ambientalmente é educar a partir da concepção de uma realidade complexa, isto é, em que todos os elementos constituintes do ambiente estão em contínua interação. Se atentarmos para a evolução dos princípios de proteção ambiental, ocorrida ao longo do século XX, deparamo-nos com mudanças significativas que vão da estética à ética. O objetivo principal dessas áreas protegidas residia na preservação de paisagens naturais, segundo seu valor estético e de acordo com a possibilidade de uso da geração atual e das futuras, não permitindo a presença do ser humano. Nas décadas de 40 e 50, os ambientalistas produziram obras importantes sob o enfoque da ruptura do equilíbrio natural causada por entes abstratos, o “homem” e a “civilização”, sendo que, na década de 60, um grupo de cientistas, reunidos no chamado Clube de Roma, fez um alerta para os riscos de um crescimento contínuo baseado em recursos naturais esgotáveis. Após a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente, em 1972, as nações começaram a estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer suas legislações, visando o controle da poluição ambiental e, na década de 80, os resíduos perigosos passaram a ocupar lugar de destaque nas discussões sobre contaminação ambiental com o propósito de se garantir a qualidade de vida, o bem-estar da humanidade.

Na década de 90, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Cúpula da Terra ou Rio 92, mostrou que neste final de século a questão ambiental ultrapassa os limites das ações isoladas e localizadas, para se constituir em uma preocupação de toda a humanidade. Mais tarde, no final dos anos 70, com o descobrimento dos riscos ambientais, com os desastres ecológicos, noções sobre a importância dos recursos naturais e os prejuízos causados pela poluição foram introduzidas nos livros didáticos.

O recurso às situações da vida real, que acontecem fora da sala de aula, em ambientes próximos ou não aos alunos envolve, por exemplo, estudo de campo para conhecer os diferentes tipos de solo e de rochas, análise da erosão do solo, estudo das espécies de árvores do parque da escola, trilhas ecológicas para observação de plantas e animais, visitas a zoológicos e a jardins botânicos, planetários, dentre outros. A educação no ambiente reconhece que os comportamentos vêm guiados muito mais pelas nossas emoções e valores do que por nossos conhecimentos, portanto é necessário não só oferecer aos educandos informações como propor experiências que reconstruam a conexão entre o homem e a natureza. Se não quisermos que a ação do homem continue a ser depredadora, devemos substituir por novas as velhas relações capitalistas e introduzir um novo sistema produtivo, repensando as formas de mediação entre seres humanos e o meio natural, sem desconsiderar as contribuições da Ciência e da Tecnologia. Em outras palavras, procura-se hoje a construção de um modelo de gestão ambiental que seja capaz de apreender o valor intrínseco do patrimônio natural sem esquecer, no entanto, o seu interesse para o progresso da humanidade. A educação para o ambiente é a parte mais relevante e inovadora do processo, pois tem como objetivo a conservação e a melhoria do meio, isto é, pretende-se, além da aquisição de conhecimentos e de capacidades, desenvolver no indivíduo o envolvimento emocional e o compromisso na procura de soluções para os problemas ambientais. Educação para o ambiente deveria incluir como objetivo, ao se estudar a contaminação de um rio, por exemplo, a tomada de decisões e opções para diminuir essa contaminação tanto no âmbito pessoal – o que posso e devo fazer enquanto cidadão – como desde o coletivo – estar atento a acompanhar as decisões das instituições responsáveis. Para Mayer (1998), durante os últimos 25 anos, o caráter da educação ambiental modificou-se profundamente não só porque os três processos educativos propostos por Lucas – sobre, no e para o ambiente – têm sido pouco a pouco substituídos uns pelos outros, mas porque este é um processo que tem exigido reflexões para se chegar ao nível das atuais propostas de muitas escolas e de muitas associações ecológicas que aceitam e propõem um triplo enfoque para a Educação Ambiental, ou, como poderíamos chamar, de enfoque complexo da Educação Ambiental. Um processo educativo com um triplo enfoque em Educação Ambiental passa tanto pelos valores, emoções, conhecimentos, interpretações e compreensões dos fenômenos ambientais como pelas mudanças de atitudes e de hábitos/comportamentos. A preocupação com o estabelecimento de novos hábitos já fazia parte dos objetivos da Educação Ambiental, estabelecidos na I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental ocorrida em Tbilisi, na Georgia, em 1977, e reiterados em outros encontros: a Educação Ambiental tem por objetivo estabelecer novas normas de conduta em indivíduos e grupos e na sociedade em geral, em relação ao meio ambiente. Para Silva (1996), o comportamento corresponde às reações de um indivíduo num determinado tempo e lugar, enquanto a atitude representa o modo de ser em uma situação, e depende de fatores individuais e sociais, representando uma predisposição valorativa da pessoa, da qual resulta a sua maneira de agir. Podemos identificar nas atitudes três componentes básicos: um cognitivo (forma como o objeto da atitude é percebido), um afetivo (sentimento de inclinação ou de aversão da pessoa em relação ao objeto da atitude) e um comportamental (tendência comportamental em relação ao objeto da atitude). Os processos educativos em Educação Ambiental aqui expostos, sejam na educação formal quanto na informal, nos dão a dimensão das dificuldades em avaliar as repercussões de um projeto de Educação Ambiental, pois, parafraseando Sanmartí (1994), os resultados de um processo educativo não são consequência de uma só atividade, mas de uma ação prolongada por anos, além de que, o tempo dedicado ao ensino não coincide necessariamente com o tempo de aprendizagem. De todas as tarefas de um educador, talvez a avaliação seja a mais difícil. Reconhecemos as limitações e a complexidade do processo de avaliação, principalmente em se tratando de educação ambiental, pois, como objetivamos a mudança de atitudes e hábitos/comportamentos, como conhecer as repercussões causadas por uma atividade e/ou projeto de Educação Ambiental? Como avaliar se precisamos melhorar/retomar as atividades propostas? Há uma unanimidade entre os autores sobre o papel fundamental da avaliação dos projetos e/ou atividades de Educação Ambiental e sobre a importância do desenvolvimento de instrumentos adequados de avaliação. Guimarães (1995) acredita ser importante realizar uma avaliação no decorrer de todo o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental. Propõe uma avaliação qualitativa da produção de conhecimentos para que se possa acompanhar o processo. Alba e Gaudiano (1997) também consideram que a avaliação precisa ser um processo contínuo e ocorrer em todas as fases do desenvolvimento das atividades: Está associada com todo o processo educativo. Não a concebemos só como uma atividade final, nem diagnóstica, senão como um processo estreitamente articulado com o fazer educativo. O segundo grupo de indicadores descreve a estratégia educacional do projeto sob o ponto de vista cognitivo (relevância local do projeto, enfoque multi/inter/transdisciplinar) enquanto o terceiro descreve a estratégia educacional do projeto do ponto de vista afetivo, isto é, descreve as interações entre alunos, professores, família, comunidade e autoridades Sanmartí (1994). Devem ser avaliados o desenvolvimento do espírito crítico do aluno, o desenvolvimento de capacidades, tais como responsabilidades, iniciativa e autonomia, e o desenvolvimento de uma nova ética e valores, melhor adaptados à gestão dos recursos e a responsabilidade ante às gerações futuras (valores de solidariedade, tolerância, cooperação). Por exemplo, a Educação Ambiental aspira, dentre outros objetivos mais gerais, a ajudar os indivíduos a tomar consciência do entorno global, ou seja, compreender que o entorno global abrange o conjunto de aspectos culturais e sociais. Se, dentro desse assunto se elegem os aspectos sociais do meio escolar, o projeto poderia ter como objetivos específicos capacitar os alunos a: i) identificar os diferentes grupos sociais dentro do meio escolar. Os resultados da avaliação de um projeto de Educação Ambiental devem sinalizar, por meio da compreensão, da reflexão e do diálogo entre seus atores – professores, alunos e comunidade – os elementos que consistiriam na autêntica melhoria do programa.


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