Ludicidade e Percepção Infantil Como Instrumentos Para Prática da Educação no Zoológico de Salvador.
- giulia lucheta
- 17 de nov. de 2021
- 4 min de leitura

Os zoológicos são áreas com grande potencial para facilitar uma maior compreensão da problemática sócio-ambiental, uma vez que reúne muitos elementos encontrados em áreas naturais, podendo assim, integrar o ser humano ao meio ambiente, fazendo-o sentir-se como co-participante na formação do meio em que vivem.
Para que as atividades educativas ambientais se tornem eficientes, é necessário valorizar as experiências sociais, percebendo o local com todas as suas características geográficas e biológicas incutidas na história de vida, sem o desperdício das vivências locais.
Poletto, Koller e Luckesi, nos mostram o lúdico como um instrumento que permite a inserção da criança na cultura, através do qual é possível permear suas vivências internas com a realidade externa, sendo assim um elo entre os diversos meios vividos pelo individuo com ele mesmo.
Tornando-se assim um facilitador para a interação com o meio na construção de uma nova percepção, entendido como um processo interativo do individuo com o meio ambiente, em que se adquire conhecimentos através dos sentidos, sendo uma boa ferramenta para interligar os diversos ambientes freqüentado pelo individuo.
Como resultado do crescimento urbano desordenado, a exemplo do que acontece em diferentes regiões em todo país, no entorno do Zoológico de Salvador – BA, cresce uma comunidade de baixa renda, que tem como principal área de lazer, o Parque Zoobotânico Getúlio Vargas, sendo comum encontrar crianças moradoras do entorno brincando neste espaço ou utilizando-o como passagem para outras áreas da cidade.
Os desenhos são instrumentos projetivos psicológicos que funcionam como meios de acesso às camadas mais profundas de experiência, de sentimentos e de pensamentos dos seres humanos, justamente porque, através da expressão dos atores, conteúdos latentes podem ser revelados com menos reservas pelos sujeitos.
Dos desenhos em questão, foram cinco aspectos gráficos investigados e analisados por critérios de maior ou menor adaptação de comportamentos aos quais os indicadores estão relacionados, em cada fase da pesquisa e, posteriormente, foram comparados os resultados pré e pós, quanto a possíveis mudanças de indicadores, que por sua vez, poderiam revelar mudanças de comportamento.
Estudar a percepção infantil se fez necessária, neste caso, quando percebemos que é quase unânime entre os autores que problematizam a Educação Ambiental, que haja um estudo da percepção do público alvo, para que seus sentimentos, suas vivências e histórias de vida não sejam desperdiçadas no ato de educar, como acontece, normalmente, no ensino formal.
Nesse sentido perceber anteriormente como o zoológico era visto pelas crianças do CIAC nos forneceu parâmetros para a construção das atividades lúdicas, permitindo que percebêssemos melhor a comunidade em questão possibilitando assim uma maior adequação das atividades para a realidade local.
Freire deixa evidente em sua obra que, para uma resposta adequada aos problemas que nos deparamos na vida, exige a compreensão dos seus significados, de suas causas, de seus processos de formação e de suas eventuais conseqüências e isso só é possível através da re-leitura do mundo em que vivemos, ou seja, seria necessário captar e compreender como os educandos percebem, representam e se relacionam com o meio ambiente antes de desenvolver a educação, seja no contexto formal ou não-formal.
Oito itens (20%), entre a fase pré e pós, apresentaram uma mudança menos adaptativa8em relação ao objeto (os desenhos da fase pré tiveram mais comportamentos adaptativos associados aos indicadores gráficos), enquanto que quatro (10%) apresentaram, entre a fase pré e pós, uma mudança mais adaptativa em relação ao objeto (os desenhos da fase pós obtiveram mais comportamentos adaptativos associados aos mesmos indicadores).
A não mudança ou a mudança menos adaptativa não necessariamente indica que não houve alteração de comportamento frente ao zoológico depois do trabalho de educação ambiental, a partir da percepção das crianças pelo desenho, se for considerado que fatores externos podem ter influenciado a análise, tais como problemáticas com familiares, desentendimentos com colegas de classe, entre outros.
Constatando que as crianças do CIAC viam o zoológico apenas como área de lazer para exposição de animais, não percebendo suas atividades relacionadas à conservação, reabilitação e estudos de animais silvestres e exóticos, as brincadeiras lúdicas foram adaptadas para evidenciar tais questões e discutir as problemáticas citadas por elas através dos questionários, possibilitando uma vivência das inúmeras atividades que envolvem um zoológico, desmistificando crenças populares que dificultam o entendimento do porque preservar.
Isso porque o lúdico permitiu que permeássemos as fantasias criadas pelas crianças e a realidade observada pelas mesmas, através do sentimento, possibilitando a mudança de postura, pois através do brincar, a criança constrói sua relação com o objeto, constituindo esquemas que poderão reproduzir outros objetos no futuro.
Poletto e Koller afirmam que as crianças têm prazer em todas as experiências de brincadeiras físicas e emocionais, e, nesse espaço, a criança comunica sentimentos, idéias e fantasias, intercambiando o real e o imaginário, facilitando assim a troca de conteúdos e emoções, entre elas, o mediador e a atividade lúdica.
Foi perceptível que, através das respostas dos questionários em conjunto com a análise dos desenhos, ambos referentes ao tema: “O zoológico para mim é...”, houve uma considerável sensibilização quanto à utilidade do zôo em favor do meio ambiente.
É possível inferir que a não mudança de comportamentos associados aos indicadores gráficos investigados se deu porque as crianças tinham (na fase pré) e continuaram a ter (na fase pós) uma visão do zoológico como um lugar agradável e como área de lazer.
Através da análise dos instrumentos, pôde-se aferir que houve uma sensibilização positiva em grande parte das crianças envolvidas nas atividades, levando-se em consideração que a maioria delas, na análise gráfica dos desenhos, manteve os mesmos indicadores nos desenhos do pré e pós-teste em relação ao zoológico, ao que correspondeu, nos textos, com o espaço estudado ser considerado como área de lazer.
Diante de tais fatos é possível afirmar que o lúdico e a percepção são duas importantes ferramentas para o trabalho com a Educação Ambiental, já que permitem permear as vivências internas com a realidade externa do individuo, reforçando a eficácia simbólica do brinquedo.
Sabendo-se que a educação é um processo longo e que, portanto para o seu sucesso seja necessário o resgate da história de vida dos educandos, tempo, dedicação e uma metodologia envolvente quanto aos assuntos em questão, além de domínio do assunto pelo mediador;
Sendo assim, é sugerido que outras atividades relacionadas ao meio ambiente sejam desenvolvidas com as crianças presentes no projeto para que o processo educativo tenha continuidade, no intuito de que estas, além de sentirem-se parte integrante do meio em que vivem, possam também apropriar-se do meio ambiente contribuindo para a preservação e boa utilização do espaço do zoológico.
Artigo disponível em: https://www.seer.furg.br/remea/article/view/3079/1741
Imagem: Galeria Wix.
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