A Importância do Enriquecimento Ambiental Para o Bem Estar Dos Animais em Zoológicos.
- giulia lucheta
- 17 de nov. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de nov. de 2021

Coleções de animais selvagens existem há milhares de anos. Imperadores chineses, astecas e faraós costumavam ter esses animais em seus domínios, como demonstração de força e poder, diversas vezes confinados de forma arcaica, presos em pequenos espaços, e serviam de mera distração para o ser humano e sua curiosidade. Entre os séculos XVI e XVIII tornou-se costume a utilização de animais selvagens para guerra, caça, estética e cortejos.
Na Alemanha o naturalista Carl Hagenbeck fundou em 1900 o “Stellingen Zôo”, onde os animais tinham recintos mais apropriados, simulando um pouco seu ambiente natural e com espaços maiores, demonstrando uma melhoria do conforto aos animais. A partir desse zoológico, outros países da Europa e Estados Unidos o tomaram como modelo, e o interesse econômico passou a respeitar o bem estar animal. O primeiro zoológico brasileiro foi criado em 16 de janeiro de 1888, no Rio de Janeiro quando o Barão de Drumond fundou no bairro de Vila Isabel uma área de riachos, lagos artificiais e uma extensa coleção de animais. Segundo Sanders e Feijó, estes zoológicos apresentavam recintos e jaulas construídos para proporcionar aos visitantes o melhor ângulo de visão, e não para dar boas condições de vida aos animais, pois não havia uma preocupação com o bem estar deles.
Conservando espécies ameaçadas de extinção que necessitam de grandes áreas para existência, que estão sendo reduzidas, os zoológicos contribuem com temas de educação ambiental, conceitos de sustentabilidade e inclusão homem-natureza, estão buscando a cada dia a melhoria no condicionamento das espécies presentes, feito pelo enriquecimento ambiental, o que procura despertar no animal seus instintos naturais e no homem um maior interesse pela preservação.
Segundo Saad a relação humano-animal e a manutenção de animais em cativeiro datam de milênios, mas apenas recentemente, nas últimas três décadas, a preocupação com o bem estar destes foi reconhecida como ciência.
Diante de tal afirmação, o presente trabalho vem apresentar as melhorias realizadas pelos zoológicos na busca por uma qualidade de vida para os animais que estão fora de seu habitat natural.
Os jardins zoológicos estão obrigados a cumprir as recomendações da Instrução Normativa, excetuando-se os casos em que haja o endosso conjunto dos biólogos e médicos veterinários da Instituição, através de declaração escrita submetida ao Instituto, comprovando que os alojamentos estão atendendo ao bem estar físico-psicológico dos animais que neles se encontrem. O habitat natural de aves, por exemplo, não pode ser comparado ao espaço disponível em um recinto fechado, independente de seu tamanho.
Segundo Molento (2007), a ligação com os animais encontra-se onipresente na historia da humanidade e a ideia de que os animais sentem, e que seu sofrimento deve ser evitado, é bem aceita e fundamentada.
Broom e Molento (2004) definem o bem estar como um conjunto de respostas à outros conceitos, como: sentimento, estresse, adaptação, necessidades, medo, tédio, saúde, sofrimento, ansiedade, felicidade e outras reações que podem ser observadas no dia a dia com os animais.
Livres para expressar comportamento natural – Uma vez que sejam garantidos espaço suficiente, condições de moradia apropriadas e a companhia de outros animais de sua espécie.
A importância do Enriquecimento Ambiental também foi reconhecida, primeiramente por Yerkes em 1925 e depois por Hediger entre 1950 e 1969 os quais identificaram a importância do ambiente físico e social de animais cativos. Yerkes aponta que o animal deve ter oportunidade de trabalhar para sobreviver, devendo ter o mínimo de oportunidade de exercitar diferentes reações diante das invenções e dos objetos colocados em seu ambiente.
Na natureza os animais passam a maior parte do tempo à procura dos seus próprios alimentos, evitando os seus predadores, procurando e disputando parceiros para acasalar;
Todos esses cuidados são necessários para a manutenção desses animais em cativeiro, porém este ambiente pode comprometer o bem estar, frente à previsibilidade, onde faltam desafios e imprevistos, em que o animal é criado.
O animal sem estímulos físicos e mentais ou em condições que não permitam a expressão de comportamentos específicos (como escapar de algo que o incomoda ou amedronta) pode então apresentar comportamentos inapropriados ou mostrar-se entediado. Enriquecimento ambiental reduz o estresse, prevenindo o surgimento de comportamentos anormais ou promovendo o tratamento (eliminação ou redução) de tais comportamentos na vida cativa.
Outra grande importância do enriquecimento ambiental é no papel da conservação em zoológicos, pois ele permite ao visitante observar os animais se comportando da maneira mais próxima ao habitual, deixando-o assim mais satisfeito e interessado, o que facilita o trabalho de educação ambiental local.
Na prática o enriquecimento ambiental consiste na introdução de variedades criativas nos recintos a fim de contribuir para o bem estar dos animais cativos. É de suma importância ressaltar que o tipo de enriquecimento utilizado deve ser apropriado à espécie em questão, para garantir não só a segurança dos animais como do público.
Sendo assim, as diferentes técnicas de enriquecimento utilizadas podem ser divididas em cinco grandes grupos: enriquecimento físico, que consiste na estrutura física do recinto, ao ambiente onde os animais estão inseridos.
Desta maneira são introduzidos poleiros e cordas para aves, tanques para hipopótamos, ursos, galhos e cordas no recinto dos macacos, entre outros exemplos.
Neste recinto podemos observar cordas de sisal, mangueiras, lago, troncos e até mesmo um bambuzal, onde os Gorilas costumam se esconder. Os animais têm a oportunidade de interagir com outras espécies que naturalmente conviveriam na natureza e/ou com indivíduos de mesma espécie.
O enriquecimento alimentar consiste em promover variações na alimentação dos animais, fazendo com que tenham certa dificuldade em obter o alimento.
Para o enriquecimento ambiental podem ser utilizados diversos objetos, como por exemplo, tubos de PVC, boomerball (bolas de plástico duras), bambu, ratos de brinquedo, frutas congeladas, gravetos, capim e folhas secas, cordas, garrafas pet, entre outros. Os itens usados não devem facilitar a fuga ou causar ferimentos nos animais (por isso, não podem espetar ou prender) e não podem ser arremessado pelos animais, ferindo dessa forma os visitantes. Também devem ser adequados para cada recinto, não podem permanecer por muito tempo nele, pois assim perderia o caráter de novidade, para isso deve se alterar o tipo de enriquecimento e sua frequência.
Nos últimos anos foram observados e registrados vários nascimentos em diversos zoológicos do país, estes nascimentos vão desde espécies que não correm risco de extinção até aquelas que são raras.
Artigo disponível em: https://www.metodista.br/revistas-izabela/index.php/aic/article/view/501/426
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