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A História e Importância da Genética na Área Forense.

Atualizado: 4 de jun. de 2021



Gregor Mendel, monge biólogo e botânico considerado o pai dos conhecimentos sobre a hereditariedade, foi o primeiro a estudar genética. Em 1843 entrou para o mosteiro agostiniano de São Tomas onde foi ordenado padre, e em 1851 foi aceito na universidade de Viena para desenvolver sua vocação pela ciência. No ano de 1853 retorna a sua província onde inicia a dar aulas sobre ciências naturais, em 1856 já realizava pesquisas com ervilhas nos jardins do monastério.

Sua teoria mostrava que as características das plantas eram geradas por elementos hereditários, hoje reconhecemos como genes. Mendel morreu no dia 6 de janeiro de 1884, sem que pudesse ver seus estudos sendo reconhecidos, o que ocorreu somente no século XX, quando pesquisadores foram capazes de reconhecer tamanha importância das suas descobertas para o mundo da genética. A genética é fundamental para identificação de vítimas e resolução dos crimes, sendo um avanço muito grande e importante. Antes do uso do DNA nos casos criminais, muitos suspeitos não eram presos ou pessoas inocentes eram condenadas, já que a polícia não dispunha de muitas técnicas para solucionar os casos, geralmente recorriam as testemunhas ou impressões digitais, porém não podiam confiar totalmente nas testemunhas e não era sempre que os culpados deixavam impressões digitais, no entanto tudo mudou quando iniciaram a utilizar as técnicas genéticas.

O primeiro caso solucionado por meio de exames de DNA foi o assassinato de Lynda Mann e Dawn Ashcroft. Em 1983, em um vilarejo de Narborough, na Inglaterra, foi achado o corpo de uma garota de 15 anos chamada Lynda Mann, a polícia determinou que ela havia sido estuprada e assassinada em seguida, colheu-se amostras de sêmen deixado no corpo da vítima. 3 anos após o ocorrido, a polícia encontrou outro corpo nas mesmas condições, uma menina de 15 anos chamada Dawn Ashcroft, também estuprada e assassinada em um vilarejo de Enderby, perto do antigo ocorrido em Narborough, mais uma vez recolheram amostras de sêmen deixado pelo estuprador, e assim um homem chamado Richard Buckland confessou os dois crimes. No condado onde ocorreram os crimes vivia um médico e geneticista chamado Alec Jeffreys, professor na universidade de Leicester. Em 1985 Alec publicou um artigo na revista Nature, no qual comentava sobre certas regiões do DNA, ele chamou essas regiões de minissatélites, e que por meio delas poderiam identificar uma pessoa com quase 100% de certeza, ele também chamou essas regiões de “impressões digitais de DNA”. A polícia conversou com Alec que realizou exames de DNA nos sêmens encontrados e comparou com o DNA de Richard, e descobriu que os sêmens eram da mesma pessoa, porém essa pessoa não era Richard Buckland. Para encontrar o criminoso, a polícia incentivou uma campanha de doação de sangue no condado, com isso Alec pôde examinar o DNA de 3.600 homens, mas em nenhum deles havia um DNA compatível. No ano de 1988, uma mulher disse à polícia que ouviu uma conversa na qual um funcionário de uma padaria em Narborough, Ian Kelly havia dito que na época da campanha de doação de sangue, 2 anos atrás, tinha entrado na fila para doar sangue no lugar de um colega padeiro chamado Colin Pitchfork. Isto é, a polícia havia duas amostras de DNA de Ian Kelly, e uma delas marcada como se fosse de Colin, desta maneira a polícia foi atrás de Colin Pitchfork, que entregou uma amostra de seu sangue, os resultados mostraram que o responsável pelos dois crimes era Colin Pitchfork. Colin confessou os crimes e entrou para a história como a primeira pessoa condenada através de exame de DNA.

A ciência forense é uma área interdisciplinar abrangendo matemática, física, química, biologia e várias outras ciências, isso com o objetivo de dar suporte para as investigações relativas a justiça civil e criminal. Uma das ciências forenses principais é a genética e biologia forense, que consiste na realização de perícias de casos de filiação, criminalística biologia e identificação individual (genética). As perícias a partir de vestígios biológicos consiste no estudo dos vestígios e comparação de suas características genéticas com as da vítima e suspeito. Sua caracterização e identificação são de grande interesse, já que essas secreções são fundamentais para identificar o autor do crime. As perícias nas investigações genéticas são baseadas em duas fases: a análise laboratorial e a valorização bioestatística dos resultados. O interesse médico-legal na criminalística está em procurar vestígios biológicos, anatômicos ou humorais que permitem a identificação do autor do crime, para fazer a coleta destes materiais é preciso seguir normas rígidas, porque qualquer evidência coletada, documentadas e preservadas de forma incorreta não vão possuir valor científico em investigações criminais. Para uma correta identificação de criminosos a partir de análises de DNA é necessário seguir parâmetros rígidos para todas as etapas do processo. Ao longo das investigações criminais os principais materiais encontrados para análise de DNA são sangue, manchas de sangue, sêmen, fios de cabelo com raiz, tecidos, órgãos e ossos. Outras fontes como urina, saliva e fezes podem ser analisadas, mas deve-se ressaltar que apenas células nucleadas servem para genotipagens de DNA nuclear. Qualquer evidência encontrada em locais de crimes deve ser fotografada ou filmada antes de serem movidas ou tocadas, caso não seja possível realizar esse processo, é necessário fazer um esquema ou relatório bem detalhado. o receber as amostras os laboratórios forenses devem verificar e registrar a presença e o estado do empacotamento, dos selos e das etiquetas. Caso se realize algum teste preliminar nas amostras esse procedimento também deve ser registrado.

Coleta de sangue e sêmen: o material genético em forma liquida geralmente é coletado por absorção, ainda em estados líquidos podem ser removido por uma seringa descartável ou uma pipeta automática, sempre estéreis, e transferidos para um tubo de laboratório. O sangue líquido coletado deve ser preservado com anticoagulantes. Manchas secas de sangue e sêmen encontradas em lençóis, peças de roupa e outros objetos que podem ser removidos para o laboratório devem ser isolados e transportados na forma que estão. Quando estas manchas estão sobre objetos muito grandes para serem transportados a região contendo a amostra deve ser cortada e levada ao laboratório. Se estiverem sobre objetos que não podem ser cortados as amostras devem ser raspadas com uma ferramenta apropriada e limpa de contaminantes.

Tecidos, fios de cabelo, órgãos e ossos: devem documentar e fotografar seu estado, esses materiais devem ser coletados com o auxílio de instrumentos, como pinça e bisturi, sempre livres de contaminações. Cada item será selado e documentado separadamente, no caso dos fios de cabelo eles só terão utilidade se estiverem com raiz.

Saliva, urina e fluidos corporais: devem ser transferidos em garrafas de plástico ou de vidro esterilizadas, caso encontrem apenas manchas desses fluidos devem fazer o procedimento de cortar a área com o material e levar ao laboratório para serem analisados.

Contaminação: deve evitar qualquer tipo de contaminação que possa interferir no resultado da análise, sempre mantendo a integridade biológica da amostra. Além de sempre ser um perito que deve recolher as amostras, é essencial o uso de luvas descartáveis. Pode-se definir vários tipos de contaminação:

contaminação química (produz resultados inconclusivos ou ausência de resultados), contaminação por microrganismos (pode não interferir no resultado, no entanto sangue e sêmen podem ser contaminados por fungos e bactérias, quando isso ocorre pode levar a degradação do DNA, se o DNA encontrado estiver degradado o resultado pode ser inconclusivo) e contaminação por outro DNA humano (pode acontecer durante ou depois da coleta das amostras). Há diferenças entre “mistura de amostras” e “amostra contaminada”, a primeira é quando uma amostra de DNA possui dois ou mais materiais genéticos e a segunda é quando a amostra é contaminada durante a coleta, armazenamento ou análise da amostra. Para garantir a preservações das amostras os vestígios biológicos devem ser preservados de forma a garantir a integridade do seu material genético. Para isso deve se evitar a exposição à luz, a substâncias químicas, e deve ser armazenada a baixas temperaturas, para que evite o aparecimento de microrganismos.

Alec Jeffreys, o pai do teste de DNA, é um geneticista inglês nascido em Luton, Bedforshire, criou o teste de DNA, que viria a ser considerado como DNA fingerprint, Jeffreys estudou em Oxford, formou-se em bioquímica em 1972, em 1975 completou seu PhD em genética. Trabalhou dois anos na universidade de Amsterdã como pesquisador de genes de mama, fazendo pós-doutorado com o Dr.Flavel. Em 1977 foi contratado pelo departamento de genética da Universidade de Leicester, onde começa uma pesquisa sobre o gene de codificações da proteína mioglobina e se torna professor de genética em 1987. Na década de 80, Alec Jeffreys sugeriu que todos os indivíduos poderiam ser identificados através de um padrão no DNA, no início houve muita dúvida sobre usar sua técnica na parte forense, já que não tinham total confiabilidade dos métodos. Em 1988 sua técnica foi usada oficialmente para resolver o caso Leicester, desde então o uso de DNA forense vem sendo utilizado como principal ferramenta para solucionar casos criminais e no estudo de vínculo genético.As regiões recolhidas para analisar o DNA são aquelas que apresentam maior variação individual e facilidade de estudo. Essas áreas são chamadas de polimorfismos de DNA. Alec descreveu essas regiões ao estudar um determinado gene e percebeu que estas regiões são diferentes entre as pessoas.

Notou também que essas regiões estão presentes em todos os genomas humanos, e que através delas definiu o que ele chamou de “impressões digitais do DNA” ou “DNA fingerprint”. DNA firgersprint é um método de identificação que compara fragmentos de ácido desoxirribonucleico (DNA), também conhecido como tipagem de DNA. Observando as sequências é possível identificar se o DNA coletado pertence a algum suspeito ou não, sendo muito usado em casos de identificação de paternidade.

Oficialmente o DNA foi usado pela primeira vez para resolver um problema de imigração, um jovem gânes, que morava com a família na Inglaterra fez uma viajem para seu país de origem, quando regressou para o Reino Unido teve sua entrada negada, sobe a acusação de documentação falsificada. Alec Jeffreys solicitado pelo governo fez uso de sua recém-descoberta para solucionar o caso. Através do exame de DNA ficou comprovado que a família biológica do rapaz residia mesmo na Inglaterra, possibilitando assim sua entrada. Ainda em 1986 houve a primeira aceitação de DNA como prova criminal numa corte dos Estados Unidos, o caso Florida X Andrews. A análise foi usada para identificação do suspeito de 20 invasões a residência seguidas de estupro (ALVES, 2009). Em 1987 o FBI e laboratórios criminalistas de vários países começaram a aceitar o uso de materiais biológicos como provas criminais.


Desta forma, é possível reconhecer a importância da genética na área forense, sendo atualmente a ferramenta mais fundamental para resoluções de crimes e de questões jurídicas. Indispensável ressaltar os cuidados e a importância dos peritos criminais em seguir as regras de segurança e preservação das amostras, para evitar contaminação ou alteração nas provas.


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